Então. Hoje (ou ontem, como seria o certo. Mas eu sempre digo que não é amanhã até eu dormir!) pela noite, ao invés de eu cumprir minha rotina tediante de uma típica quarta-feira-de-noite (lê-se: chegar, correr pegar o xeróx do polígrafo que eu deveria ter lido em casa, ler só um pedaço, ouvir a professora falar sobre algum assunto sociológico chato, copiar os itens nos slides... e depois de copiar ouvir ela -professora- dizer que "vou por tudo na pastanet gente, não precisam copiar"), apresentou-se diante de nossa querida turma (e de todas as turmas de Comunicação - Jornal, PP e RP) a oportunidade de assistir a uma palestra.
Vejam bem, quero que entendam o porque de eu ter ficado tensa, no primeiro momento. A ultima palestra que compareci, faz duas semanas, na faculdade, me deixou tão fula com o palestrante a ponto de eu ter que sair do auditório por não aguentar mais a merda que ele dizia. (COME ON, ele só sabia -resumindo- dizer que o brasil era uma merda e que a midia daqui devia ser como da argentina, venezuela, sei lá. QUALÉ, a nossa midia é muito melhor. é.). Sendo assim, é bem compreensivel que eu já tenha ido para o auditório do centro 4 já esperando uma grande *osta (por mais que o assunto da palestra me animasse: "reporteres que estiveram no Chile cobrindo o terremoto").
Mas, como boa samaritana e esperando não ter de sair no meio da fala do cara, de novo, eu e as garotas sentamos bem na frente. "Se for bom mesmo, quero um lugar que preste".
E então, depois que o blablablá (lê-se: responsável pelo curso de Jornalismo que eu não sei como chamar) fez uma pequena apresentação dos convidados (eram dois, Victor Hugo Sanchez -obviamente chileno- e Luciano -ok, nao lembro bem se era luciano ou algo parecido, MAS vamos chama-lo aqui de Luciano, ok?), o repórter/radialista da rádio Guaíba começou a falar. Juro que quase chorei já nos dez primeiros minutos. Enquanto ele falava, iam mostrando as fotos que ele tirou lá, e .. cara... aquilo era quase desumano! Crianças dormindo nas ruas, restos do que um dia foi um lar... sério, foi uma merda ver aquilo e não chorar porque o rimel ia borrar e por estar sentada na frente não queria isso (le-se: porque estava saindo em todas as fotos que estavam tirando no local)...Enfim... Acho que a parte mais triste do discurso deste primeiro cara - o Luciano Brasileiro, como pensei em chamá-lo agora- foi a parte em que apareceu um menininho loirinho apontando para os escombros de uma construção... (espera, Isso acho que foi do Victor Hugo! enfim, que seja, prosseguimos) Aí ele explicou que essa foto foi tirada quando este menininho estava mostrando no que se transformou a escola dele. Em um monte de lixo, praticamente. E ele está com uma cara de choro, e explicaram que ele estava mostrando e pedindo ajuda do pessoal do governo -que estava lá na hora- para reconstruirem a escolinha, para que eles pudessem estudar.
Ouvir esse relato foi tipo ser transportada pra lá. Muito triste. Agora, por exemplo, estou com os olhos CHEIOS de lagrimas. Acho que vou chorar agora o que não chorei na hora.
Enfim, este - o Luciano Brasileiro, como gostei de nomear- terminou de falar com a voz rouca e os olhos vermelhos, também evitando o choro. E assim entrou o Victor Hugo. E dei graças a Deus de saber Espanhol. Sabe, mais de 100 pessoas na sala e quase todas ficaram viajando quando ele começou a falar. E eu fui a unica que respondeu "SI" quando ele disse 'voy hablar despacio para que me comprendan ... si?'.. foi vergonhoso.
Bom, então, ele é radialista lá do Chile mesmo e ajudou no lance todo do Terremoto. A radio que este cara trabalha foi a unica das quatro rádios que tinham na cidade dele que não veio à baixo (o predio, quero dizer). O Luciano o conheceu porque se hospedou "na casa dele" (Luciano chegou dois dias depois do terremoto, lá. E eu usei "casa" entre aspas porque todos estavam dormindo em barracas mal feitas no pátio das casas, porque era o lugar mais seguro, em caso de novo terremoto. Sabe, dentro de casa você sempre pode esperar que o teto caia ou algo assim), e ambos criaram laços muito firmes.
No dia 11 de março o Luciano ainda estava lá. E enquanto falava ao vivo com a rádio aqui no Brasil, a terra Chilena começou a tremer de novo e então ouvimos na rádio "perai, perai que tá tremendo aqui" e então barulho de coisas caindo e a moça que falava com ele aqui da radio no brasil, ficou chamando seu nome, sem resposta.
Victor Hugo disse que esse segundo terremoto serviu para deixar as pessoas mais apavoradas, agora esperando um terremoto forte destes a qualquer momento, de novo.
Eu juro que não fazia idéia de quão grande ele(s) tinha(m) sido... até hoje.
Este, o primeiro, do dia 27 de fevereiro -2010-, foi o quinto mais forte de TODA A HISTÓRIA!
Vocês tem (tenho dificuldades em escrever o "tem" no plural sem acento circunflexo. maldita reforma ortográfica) noção disso?
No dia 28 de fevereiro teria uma festividade na praia de uma das cidades, e em torno de 800 pessoas já haviam se locomovido para lá, para esperar o evento. Como bem sabem (ou não), vinte minutos DEPOIS do terremoto houve um recuo do mar de 1 km! ... E então o Tsunami. Com ondas de 12 metros de altura. De todas estas pessoas que estavam lá para a festa -que nunca ocorreu-, foram encontrados por volta de 20 mortos. Mas ainda há buscas. Há muitos corpos mais, vocês sabem disso.
Não me recordo bem a quantia que Victor citou que será necessária para reerguer a cidade. Mas acho que foi algo em torno de 30 milhões. Isso só para reerguê-la. Não para fazê-la caminhar de novo. Se é que entendem a metáfora. Citei-a porque o palestrante a usou na hora.
Agora, pela primeira vez, eu estou realmente REALMENTE chocada com algo. Eu sou uma pessoa que não é muito ligada a isso. Sabe, as vezes até me achava sem coração.
Mas quando vi todas aquelas imagens, e ouvi o que aqueles dois tinham para dizer.... foi meio... é.. chocante. Muito.
E eu espero, com todo o coração, que o Chile se recupere e tenha forças para seguir adiante. Só não digo que "estou rezando por isso" porque não gosto dessa frase. É demasiado apelativa para o meu gosto.
Vamos torcer, (se não, ajudar) para que logo o Chile volte a ser o que era. (a previsão é de 4 anos, para tudo ser como antes...).
Obrigada a quem leu. Só precisava dizer. Esta palestra de hoje me fez sentir tão humana como nunca. Acho que isso é bom. Nunca fui uma pessoa que sentia a euforia em relação ao planeta. Mas pretendo mudar isso. Ver o que a gente viu nas fotos, ouvir o que ouvimos pela boca daqueles radialistas e se sentir dentro da cena, como nos sentimos, meio que mudou meu ponto de vista do modo como via o mundo. #tenso.
Beijos, e boa noite :*
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