sexta-feira, 29 de maio de 2009

fic - ITALY . pt.1


Ele não deveria estar aqui. Mas estava.
Reconheci de longe aquele porte largado e aquele abrigo surrado e meio esgaçado.
Achei graça no boné cor-de-rosa que usava por baixo do capuz e na camisa colorida havaiana que aparecia no espaço entreaberto do zíper do casaco.
Ri discretamente. Ele realmente fez uma mudança de look só para tentar chegar aqui sem ser reconhecido. Tudo isso para quê? Para me ver e, com um sorriso discreto e um meneio de cabeça, indicar além da parede de vidro, um táxi estacionado na vaga de deficientes. Incrível como até os taxistas ele influenciava a descumprir regras.
Disfarçadamente me virei e sai pela outra porta.
Ashley estava saindo também. Passamos uma pela outra, nos despedimos e ela acenou, correndo em seguida até uma mulher muito similar ao aspecto físico de um homem de cinqüenta anos que parecia a estar aguardando.
Olhei para os lados e dei graças a deus em não ver ninguém me encarando. Não muito, pelo menos.
Era tão bom não ter que esperar por malas na esteira. Odiava aquilo. Era um tempo extra que fazia com que pessoas dessem uma boa reparada em você e chegassem à conclusão de que era mesmo a garotinha famosa de Twilight. Nada contra os fãs, a principio. Refiro-me principalmente à paparazzis. Tirando as vezes em que alguns fãs me falam coisas absurdas, costumam ser mais calmos comigo; mais do que com o Robert, pelo menos.
Olhei para os lados quando parei na calçada. Cansada, músculos doendo, minhas costas pedindo por uma posição melhor e a mochila enorme nas minhas costas não ajudando nisso. Era esta minha condição atual. Só queria relaxar. Porque Vancouver teve que ser tão longe da Itália?
Rápida, fui até o carro amarelo e abri a porta de trás sem reparar, entrando e jogando a mochila no banco do meio.
Fechei a porta e escorei a cabeça entre os joelhos, fechando os olhos. Silêncio. Era disso que eu precisava.
O táxi começou a andar, mas ainda em completo silêncio. Era isso que eu gostava nele. Entendia minhas necessidades e sabia exatamente como agir e o que falar, ou não falar, na hora certa.
Senti ter passado em torno de dez minutos até meus músculos relaxarem a tensão e eu poder suspirar.
- então...
Falei.
Não era como se as coisas estivessem às mil maravilhas.
- então...
Não pedi que me imitasse. Foi o que tive vontade de dizer, mas contive o impulso e apenas girei a cabeça, ainda encostada nos joelhos, de modo que pudesse vê-lo.
Apenas o olhei. Não disse nada.
Rob sabia exatamente o que eu estava pensando no momento, eu tinha certeza, assim não era necessário que expusesse em palavras ou gestos.
“- As vezes sinto como se você pudesse ler minha mente. Uma espécie de Edward talvez?
- Mais provavelmente um maluco que se aferrou tanto à um papel que está ficando louco.
- Ainda voto na teoria de que você é capaz de saber o que eu estou pensando.
- Tenta então. Pensa em algo e me deixa adivinhar.
- ok...
- Você está pensando que eu estou fazendo papel de imbecil, e que provavelmente eu deva estar pirando devido ao nível alto de maconha tomando conta do meu cérebro.
- não... Você errou. De onde tirou isso?
- Bom, era o que EU estava pensando, pelo menos.”

Impossível não sorrir com uma lembrança assim.
E foi isso que conteve algo que Rob iria dizer. Ele fechou a boca que havia aberto abruptamente e apertou os lábios, olhando para a janela.
Observei seu reflexo enquanto olhava para fora, mas sem ver nada, na realidade. Estava distante. E eu me perguntava sobre o que pensava.
- Senti saudades disso.
Pisquei seguidas vezes, levantado a cabeça e o encarando. Possivelmente ele também me via pelo reflexo, pois virou sorrindo. Eu só levava uma cara de confusão.
- Do que exatamente? De andar de táxi comigo?
- Não, animal. Senti saudades do seu sorriso.
Riu baixo e aproximou-se de mim, tocando com os indicadores cada canto da minha boca e erguendo-os em um sorriso forçado. Segurou os dedos ali e fez uma cara satisfeita.
- viu? Bem melhor. Sorria mais, Greengirl.
Revirei os olhos, e recuei me desvencilhando de suas mãos.
- Pensei termos combinado esquecer estes apelidos, mallborosman.
Ignorei o fato de que ele rolou os olhos e continuei o encarando.
- Você sabe, não sabe?
- o que?
- que Greengirl soa muito menos infantil do que mallborosman.
- Agora sou a criança? Quem foi que me deu o apelido de ‘garota-maconha’ primeiro?
Indignei, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha.
- Sim, pelo obvio você É a criança aqui. E é ‘Garota-Verde’ o seu apelido, e nem é tão sugestivo assim. Nunca leu o ‘menino-do-dedo-verde’? Ele fazia viver todas as plantas que tocava. Não precisa necessariamente seu apelido intimo ser relacionado à maconha. Você que tomou as dores, Stewart.
- O que importa foi a intenção que você teve ao chegar no set um dia me chamando assim.
E aposto que não foi por me ver tocando em plantinhas ou trabalhando com o circo.
- E já que você tocou neste assunto, Stewart. Alguém descumpriu o trato.
Senti algo de sugestivo no modo irônico com que me encarava, e senti meu rosto queimar. Já imaginava do que ele deveria estar falando. Malditos paparazzis.
- Trato? O único trato quebrado aqui é o seu.
Juro que queria ser mais sutil... Mentira.
- Em que momento as pedras passaram da minha mão para a sua? – ele resmungou – Pensei que desta vez sairia na vantagem. Incrível.
Era mais uma reclamação para si do que pra mim. Ignorei.
- Não fui eu que estive dançando lambada com coelhinhas da playboy com seus rabinhos enfiados na bunda e seus bigodinhos roçando em tudo o que encostam.
Ele riu. Eu segurei.
- Kristen, se não te conhecesse diria que você está a ponto de uma crise de ciúmes.
Isso também, mas ele não precisava ficar sabendo.
Ele continuou.
- Mas como eu te conheço... Sei que está tentando desviar a atenção. Que fotos foram aquelas do dia após eu deixar Vancoucer?
- Você que não está querendo me contar com quantas coelhinhas dançou ‘what what in the butt’ nas festinhas de Cannes.
- Acabou de ignorar minha pergunta.
- E você a minha.
Silêncio. De novo.
Robert ia abrir a boca, mas eu já estava cansada.
- ah, cala a boca.
Gesticulei um aceno com a mão e voltei à posição quase-fetal, com a cabeça nos joelhos.
Ouvi Alguém suspirando ao meu lado, murmurando algo como “sua próxima parada, o manicômio”.
- eu ouvi isso, idiota.
Ele riu.
E eu soube que no final, tudo estava bem, de qualquer modo.

*

Chegamos no hotel depois do que pareceu vinte quatro horas dentro do maldito táxi.
Após a ida rápida até o hall para pegarmos nossas chaves dos quartos, corri para pegar o elevador, mas ele fechou antes que eu pudesse entrar. Ouvi Robert rindo às minhas costas.
O barulho de chaves tilintando soou próximo e vi que ele parou ao meu lado esperando a maldita caixa claustrofóbica chegar ao térreo.
Desviei o olhar e reparei no numero do apartamento no cartão dele. 1200.
Peguei o meu e virei olhando o numero. 1000.
Dois andares abaixo.
Dei de ombros discretamente, e neste momento o elevador chegou.
Dois elevadores chegaram, juntos.
Sem pensar e com esperanças de que Rob entraria no ao lado, entrei e pressionei o botão do décimo andar, sem perceber que já havia outro botão além do meu pressionado.
- como entrou tão rápido? – passei a mão no cabelo, confusa.
- Edward me ensinou alguns truques. – ele sorriu sedutor e piscou.
Resmunguei e voltei ao silêncio.
6...7...8... Ia contando os andares mentalmente.
9... 10.
As portas se abriram e eu me apressei pra fora.
- Boa noite.
Já no corredor, uma mão apertou meu braço e me puxou para dentro do elevador de novo.
Ele só me olhava confuso, ainda me segurando.
As portas voltaram a se fechar e o elevador continuou a subir.
- Boa noite assim? – vi uma sobrancelha erguendo, e sem poder evitar, sorri.
- quer uma carta de bons sonhos? – tentei ironizar.
- um pouco mais que uma carta, será que seria possível?
Foi minha vez de enrugar a testa. Isso no exato momento em que era empurrada com um pouco de excesso de força contra a parede do elevador.
Suas mãos seguravam minha cintura com a urgência de sempre, e eu não pude evitar cruzar os braços pelo seu pescoço no momento em que ele quase retirava todo o ar dos meus pulmões num beijo de duas pessoas que não se tocavam a mais de uma semana.
Não tinha tempo pra uma reação pensada. Nunca tinha. Eu era sempre surpreendida.
E não tinha nada contra isso. Realemente? Eu não me importava.
*
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